Tuesday, August 09, 2005

O mundo que se esconde por trás de uma mão...pasmem-se!

Esta é a face de João Manuel, o senhor do adeus do Saldanha, que geralmente as pessoas não conhecem:

Ele tem 74 anos, descendente de uma família abastada e nasceu numa grande casa na rua tomás ribeiro. Nunca trabalhou...em vez disso passou a vida a viajar. Conheceu os principais museus das maiores cidades europeias e considera Veneza uma cidade única e Paris a mais bela cidade do mundo. Fala de arte e das noites glamourosas da sua juventude na Inglaterra dos anos 50, onde viveu três anos.

A HORA DO ADEUS - O COMEÇO

Foi há nove anos que veio para a rua dizer adeus a quem passa. Chega por volta da meia-noite à Praça Duque de Saldanha e só volta para casa quande se sente reconfortado com a simpatia dos outros. João já fez vários amigos na rua, como o actor Virgílio Castelo ou o pianista de jazz e produtor de cinema Filipe Melo, que o convidou para apresentar o making of da curta metragem I´ll See You in My Dreams. Adorou a experiência e "se voltasse atrás para escolher uma ocupação teria enveredado pela arte, poderia ter sido actor". Nem o mais alto representante da Nação o ignora: no Restelo já recebeu o aceno do Presidente da República. No inverno, o frio não o demove. Vem apenas mais agasalhado, com várias camisolas, sobretudo e cachecol. "Até gosto mais do inverno e do frio do que do Verão. Não me dou bem com calor e não gosto muito de ir à praia. Quando era mais novo, como o que era bonito era a pele bronzeada, ainda tentava apanhar sol no terraço de casa do meu pai, mas ficava tipo lagosta".

INFÂNCIA

Diz que nasceu em berço de ouro e especula "quem sabe se não tivesse sido assim me pudesse ter tornado em alguém muito importante" (mas tu já vens nos roteiros turísticos de Lisboa pah ;p).
Recorda a fortuna do avô, construida com vinhas e acções, e do bisavô, que todos conheciam pelo Zé das Jóias, pela magnífica colecção que possuía. Durante a II Guerra os pais separaram-se e mudou-se com o pai para o Restelo. O pai queria que tivesse estudado Direito, para ser diplomata, e ainda chegou a entrar na faculdade, mas não ficou lá muito tempo. Nos anos 50 foi para Londres com o objectivo de aprender a língua local, mas diz com um ar trocista "Eu estava matriculado no City of London College para aprender Inglês, mas nunca lá punha os pés. Aprendi com os amigos, com o cinema e com o teatro. Se calhar aprendi melhor do que se estivesse agarrado a uma carteira de escola. Gostei muito de lá estar, teria lá ficado se não fosse tão epegado à família." Em criança passava o Verão entre uma quinta no campo, para os lados da malveira, e uma casa virada para o rio Tejo, no Alto do Pragal. A casa já não existe: no terreno onde estava ergue-se hj o Cristo Rei (e esta hein?).

É este o homem que saúda os lisboetas no Saldanha. Talvez não exactamante o tipo de pessoa que os transeuntes imaginassem, eles que lhe matam a solidão com um aceno. E ele, não fará o mesmo por quem passa? Esta é a história de João Manuel Serra, o homem que é uma das luzes da cidade.

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